sábado, 3 de janeiro de 2009

Estrutura do nome na Idade Média

Quanto mais longa e mais preenchida for a história de uma família, quanto mais tradições acarretar, mais ciosos se tornam os seus membros na transmissão do nome. Uns pela honra, outros pelo estatuto, outros pela tradição e outros pela história. O apelido, sobrenome ou “chamadouro”, constitui a marca de qualquer família/linhagem. Se a este associarmos uma heráldica própria, ficamos assim com um capital simbólico que identifica uma determinada “gens” ao longo de gerações, de séculos. Dependendo da sua antiguidade, do seu património, das suas alianças, estratégias e trajectos, uma linhagem pode marcar uma terra, uma região, ou até um país, tudo depende naturalmente da acção dos seus membros e descendentes.

Na onomástica medieval portuguesa, o nome de uma pessoa era constituído pelo seu nome próprio (de baptismo), associado a um patronímico que indicava por norma o nome próprio do pai.
ALGUNS PATRONIMICOS USADOS NA IDADE MÉDIA EM PORTUGAL
Afonso, nome próprio
Aires, Arias, nome próprio
Álvares, cuja forma abreviada é Alves, filho de Álvaro;
Amador, nome próprio
Antunes, filho de Antão ou António
Bermudes, filho de Bermudo
Beltrão, filho de Beltrando
Bernardes, filho de Bernardo
Bráz, nome próprio
César, nome próprio
Dias, filho de Diogo
Dinis, nome próprio
Domingues, filho de Domingos
Duarte, nome próprio
Durães, filho de Durão
Eanes, o mesmo que Enes, Anes, Joanes, filho de João
Esteves ou Estevens, filho de Estêvão
Estaço ou Estaçio, nome próprio
Eriz, filho de Ero
Fagundes, filho de Fagundo
Fernandes, filho de Fernão ou Fernando
Filipe, nome próprio
Furtado, também usado como nome próprio
Forjaz, filho de Froilo
Fromariques, filho de Fromarico
Galindes, filho de Galindo
Garces, filho de Garcia
Garcia, nome próprio
Geraldes, filho de Geraldo
Gil, nome próprio
Gonçalves, filho de Gonçalo
Godinho, nome próprio
Gomes, nome próprio, ou filho de Gomecindo
Guedes, filho de Gueda
Guterres, filho de Guterro
Henriques, filho de Henrique
Jácome, nome próprio
Lovesendes, filho de Lovesendo
Jusarte, ou Zuzarte, nome próprio
Lopes, filho de Lopo
Lourenço, nome próprio
Lucas, nome próprio
Luís, nome próprio
Manuel, nome próprio
Martins, filho de Martim ou Martinho
Mendes, filho de Mendo ou Mem
Migueis, ou Miguens, filho de Miguel
Moniz, filho de Monio ou Moninho
Nunes, filho de Nuno
Ortiz, filho de Ortum
Osório, nome próprio
Oveques, filho de Oveco
Pais ou Paes, filho de Paio
Pires ou Peres, filho de Pêro ou Pedro
Ponce, filho de Ponce ou Poncio
Rabaldes, filho de Rabaldo
Ramires, filho de Ramiro
Reimão, nome próprio
Raimundes, filho de Raimundo ou de Raimão
Rodrigues, filho de Rodrigo ou de Rui
Romão, nome próprio
Romeu, nome próprio
Salvado, nome próprio, forma arcaica de Salvador
Sanches, filho de Sancho
Simões, filho de Simão
Soares, filho de Soeiro
Teles, filho de Telo
Trutesendes, filho de Trutesendo
Trastamires, filho de Trastamiro
Vasques, filho de Vasco
Vaz, abreviatura de Vasquez, filho de Vasco
Veilaz, filho de Veilo
Viegas, ou Venegas, filho de Egas
Ximenes ou Jimenes, filho de Ximeno


Por vezes, ao nome próprio e ao patronimico de uma pessoa, juntava-se um terceiro nome, factor diferenciador, um apelido de família. Nesta altura o apelido podia ter duas origens, derivar de uma alcunha pessoal, ou então de um topónimo que indica a origem ou proveniência geográfica da pessoa, no caso da nobreza, indica a sua honra, propriedade ou solar. Ambas as formas quando fixadas e repetidas na cadeia descendente, constituíam o apelido familiar que segundo a tradição portuguesa, tanto se transmite pela linha paterna como pela linha materna. Tudo depende da “força” do nome no meio geográfico, de uma maior ou menor identificação pessoal com determinado ramo familiar. A varonia em Portugal nunca teve o valor que se atribui no estrangeiro. Também a nobreza e fidalguia se transmitia por via paterna como por via materna, assim contemplava o direito português, em especial, as Ordenações Filipinas, liv.5, tit.92: “Das quais Ordenações se colhe, que assi pela via das mays, como pela dos pays, se communica a nobreza aos filhos, e podem usar dos apelidos, e armas de huma, e outra parte livremente” (Nobiliarchia Portuguesa. Tratado da Nobreza Hereditária e Politica, de António de Vilas Boas e Sampaio).

Parece que os primeiros apelidos em Portugal derivam de alcunhas, logo seguidos de perto pelos toponímicos. Os patronímicos na Idade Media, ainda não constituíam um nome de família, estes fixaram-se mais tarde (Séc.XIV a XVI). José Mattoso no seu livro; Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros “ Convém fazer também referências às alcunhas, que, como se sabe, deram igualmente origem a nomes de famílias. O seu carácter pessoal é muito claro. Derivam de características físicas, de hábitos ou comportamentos, de feitos ou acções que impressionaram os contemporâneos. Existiram sempre mesmo entre nobres (...) procedentes ou de filhos segundos ou até de antigos cavaleiros vilãos nobilitados. Sinal de que não era fácil a estes indivíduos marginalizados pelas estruturas da sucessão unilinear manterem posições sociais destacadas. Se o conseguiam era à custa do seu valor pessoal. Por isso transmitiam a alcunha e não o nome do lugar adquirido. De resto eles muitas vezes também não permaneciam no mesmo lugar: enriqueciam aqui, viviam além, mandavam os filhos para vários lugares. Daí que a ligação com os ascendentes se fizesse pela alcunha e não pelo solar de origem “.

1 comentário:

Um café disse...

Dias - filho de Diogo. OK. É interessante aprender com quem sabe.
Parabéns pelo blogue e continua!