quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ORIGEM DO NOME PINTO

É deveras sabido que o apelido de família PINTO deriva de uma alcunha medieval colocada, fixada e transmitida numa linhagem portuguesa, desde o século XII. Consultando os dicionários, estes apresentam para o mesmo significante vários significados para o nome PINTO:

1º- Como nome comum: pinto = frango recém-nascido. No Brasil, “pinto” designa também o órgão sexual masculino!

2º-Como adjectivo: pinto = pintado, deriva do latim pinctus, por pictus, particípio passado de pingere, “pintar”.Como adjectivo, pinto significa então “que tem cores diversas”. Já numa cantiga de escárnio e maldizer do século XIII, aparece “dentes pintos come dados”.

Qual deles, nome ou adjectivo terá dado origem ao apelido PINTO?

Tudo aponta para que seja o adjectivo pinto = pintado. Alguns autores antigos dizem que este “apelido deriva de uma alcunha motivada por um cavaleiro regressado de uma batalha com a sua armadura e o resto da indumentária salpicados com pingos de sangue”.

A reforçar esta origem temos a heráldica desta família, “cinco crescentes vermelhos” , uma alusão clara a batalhas contra os mouros.

Aqui jaz quem nos perigos
Das guerras, em que se achou
As Armas sempre pintou
Com sangue dos inimigos
E hum gran Rey que me estimava
Vendome de sangue tinto
Quis que me chamasse Pinto
Porque tam bem me pintava.

Manuscrito da Armaria nº 1652 da Torre do Tombo, sobre os “Pintos”.

Sobre a explicação da heráldica da família Pinto, a obra anónima “Pintos de Riba-Bestança”, editada em 1856, na pág. 7 refere:

“ A mesma construcção das armas dos Pintos mostra a excellencia desta família. São cinco crescentes de luas vermelhas, com um crescente na espadoa. As luas vermelhas designam batalhas ganhadas a mouros: as aspas, batalhas ganhadas em dia de Santo André: e o leopardo, vigor e força. "

A QUESTÃO DA HERÁLDICA

Normalmente a heráldica das famílias nobres medievais com apelidos retirados do reino animal são falantes, ou seja no escudo ou no timbre existe uma representação do referido animal, indicativo da origem do apelido.
Por exemplo a família Aranha, tem aranhas no escudo, a família Lobo, lobos, a família Bezerra, bezerros, a família Coelho, coelhos, a família Cabral, cabras, Carneiro, carneiros, Cordeiro, cordeiros, Corvacho, corvos, Falcão (um falcão no timbre), Gama (uma gama no timbre), Gato, gatos, Gavião, gaviões, Lagarto, lagartos, Lebrão, lebres, Leitão (um leitão no timbre), Sardinha, sardinhas, etc.

Dois apelidos de família parecem não derivar do reino animal, a família PINTO pelas razões já referidas na sua interpretação heráldica e a família BARATA, cujo nome parece provir da alcunha de coisa barata, baratar (em Portugal, barata, era um antigo título de dívida, contrato, permuta). Ora, esta família não apresenta no brasão baratas, mas sim três mãos que podem ser interpretadas como indicativa da profissão da prática de um negocio.

segunda-feira, 23 de março de 2009

A demolida Torre de Chã no vale de Bestança

“Porém, na fecundidade ubérrima da freguesia dos deleites, um outro surge em Chã, a senhoril, onde a torre medieva foi devastada a camartelo, aleijando o chão com pedras que fizeram história. Crime ousado de uma terra que não soube preservar o recordo de andanças de cavaleiros, que terçaram espadas na reconquista ou no desenvolver do Império.Chã, o povoado de um historial infindo, que o presente maculou, patenteia a sua fama guerreira apenas em muros ou socalcos que protegem leivas e quintais. Com uma panorâmica de encanto, campos, com restevas, caídos para o sacolejante Bestança, nota-se ainda a majestade recuada no «modus vivendi», que tem a ancestralidade como pano de fundo, num quadro pletórico de arreganho, de meiguice, de couce às presunções do presente. Uma adornada área que goza ainda de forças para se impor e credenciar, mostrando uma beleza sem arrogância, graça rural, emérita no conjunto das humildades particulares.”


Guido de Monterey
“Terras ao léu Cinfães”, Porto, 1985, pág. 499.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Estrutura do nome na Idade Média

Quanto mais longa e mais preenchida for a história de uma família, quanto mais tradições acarretar, mais ciosos se tornam os seus membros na transmissão do nome. Uns pela honra, outros pelo estatuto, outros pela tradição e outros pela história. O apelido, sobrenome ou “chamadouro”, constitui a marca de qualquer família/linhagem. Se a este associarmos uma heráldica própria, ficamos assim com um capital simbólico que identifica uma determinada “gens” ao longo de gerações, de séculos. Dependendo da sua antiguidade, do seu património, das suas alianças, estratégias e trajectos, uma linhagem pode marcar uma terra, uma região, ou até um país, tudo depende naturalmente da acção dos seus membros e descendentes.

Na onomástica medieval portuguesa, o nome de uma pessoa era constituído pelo seu nome próprio (de baptismo), associado a um patronímico que indicava por norma o nome próprio do pai.
ALGUNS PATRONIMICOS USADOS NA IDADE MÉDIA EM PORTUGAL
Afonso, nome próprio
Aires, Arias, nome próprio
Álvares, cuja forma abreviada é Alves, filho de Álvaro;
Amador, nome próprio
Antunes, filho de Antão ou António
Bermudes, filho de Bermudo
Beltrão, filho de Beltrando
Bernardes, filho de Bernardo
Bráz, nome próprio
César, nome próprio
Dias, filho de Diogo
Dinis, nome próprio
Domingues, filho de Domingos
Duarte, nome próprio
Durães, filho de Durão
Eanes, o mesmo que Enes, Anes, Joanes, filho de João
Esteves ou Estevens, filho de Estêvão
Estaço ou Estaçio, nome próprio
Eriz, filho de Ero
Fagundes, filho de Fagundo
Fernandes, filho de Fernão ou Fernando
Filipe, nome próprio
Furtado, também usado como nome próprio
Forjaz, filho de Froilo
Fromariques, filho de Fromarico
Galindes, filho de Galindo
Garces, filho de Garcia
Garcia, nome próprio
Geraldes, filho de Geraldo
Gil, nome próprio
Gonçalves, filho de Gonçalo
Godinho, nome próprio
Gomes, nome próprio, ou filho de Gomecindo
Guedes, filho de Gueda
Guterres, filho de Guterro
Henriques, filho de Henrique
Jácome, nome próprio
Lovesendes, filho de Lovesendo
Jusarte, ou Zuzarte, nome próprio
Lopes, filho de Lopo
Lourenço, nome próprio
Lucas, nome próprio
Luís, nome próprio
Manuel, nome próprio
Martins, filho de Martim ou Martinho
Mendes, filho de Mendo ou Mem
Migueis, ou Miguens, filho de Miguel
Moniz, filho de Monio ou Moninho
Nunes, filho de Nuno
Ortiz, filho de Ortum
Osório, nome próprio
Oveques, filho de Oveco
Pais ou Paes, filho de Paio
Pires ou Peres, filho de Pêro ou Pedro
Ponce, filho de Ponce ou Poncio
Rabaldes, filho de Rabaldo
Ramires, filho de Ramiro
Reimão, nome próprio
Raimundes, filho de Raimundo ou de Raimão
Rodrigues, filho de Rodrigo ou de Rui
Romão, nome próprio
Romeu, nome próprio
Salvado, nome próprio, forma arcaica de Salvador
Sanches, filho de Sancho
Simões, filho de Simão
Soares, filho de Soeiro
Teles, filho de Telo
Trutesendes, filho de Trutesendo
Trastamires, filho de Trastamiro
Vasques, filho de Vasco
Vaz, abreviatura de Vasquez, filho de Vasco
Veilaz, filho de Veilo
Viegas, ou Venegas, filho de Egas
Ximenes ou Jimenes, filho de Ximeno


Por vezes, ao nome próprio e ao patronimico de uma pessoa, juntava-se um terceiro nome, factor diferenciador, um apelido de família. Nesta altura o apelido podia ter duas origens, derivar de uma alcunha pessoal, ou então de um topónimo que indica a origem ou proveniência geográfica da pessoa, no caso da nobreza, indica a sua honra, propriedade ou solar. Ambas as formas quando fixadas e repetidas na cadeia descendente, constituíam o apelido familiar que segundo a tradição portuguesa, tanto se transmite pela linha paterna como pela linha materna. Tudo depende da “força” do nome no meio geográfico, de uma maior ou menor identificação pessoal com determinado ramo familiar. A varonia em Portugal nunca teve o valor que se atribui no estrangeiro. Também a nobreza e fidalguia se transmitia por via paterna como por via materna, assim contemplava o direito português, em especial, as Ordenações Filipinas, liv.5, tit.92: “Das quais Ordenações se colhe, que assi pela via das mays, como pela dos pays, se communica a nobreza aos filhos, e podem usar dos apelidos, e armas de huma, e outra parte livremente” (Nobiliarchia Portuguesa. Tratado da Nobreza Hereditária e Politica, de António de Vilas Boas e Sampaio).

Parece que os primeiros apelidos em Portugal derivam de alcunhas, logo seguidos de perto pelos toponímicos. Os patronímicos na Idade Media, ainda não constituíam um nome de família, estes fixaram-se mais tarde (Séc.XIV a XVI). José Mattoso no seu livro; Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros “ Convém fazer também referências às alcunhas, que, como se sabe, deram igualmente origem a nomes de famílias. O seu carácter pessoal é muito claro. Derivam de características físicas, de hábitos ou comportamentos, de feitos ou acções que impressionaram os contemporâneos. Existiram sempre mesmo entre nobres (...) procedentes ou de filhos segundos ou até de antigos cavaleiros vilãos nobilitados. Sinal de que não era fácil a estes indivíduos marginalizados pelas estruturas da sucessão unilinear manterem posições sociais destacadas. Se o conseguiam era à custa do seu valor pessoal. Por isso transmitiam a alcunha e não o nome do lugar adquirido. De resto eles muitas vezes também não permaneciam no mesmo lugar: enriqueciam aqui, viviam além, mandavam os filhos para vários lugares. Daí que a ligação com os ascendentes se fizesse pela alcunha e não pelo solar de origem “.